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Estudo aponta indícios de um possível novo surto de mpox no Rio de Janeiro

Em julho de 2022, a Organização Mundial da Saúde classificou a mpox como emergência de saúde pública, tendo revogado esse status em maio de 2023 em decorrência da diminuição expressiva no número de casos. Durante o período de surto, 81.105 casos de mpox foram notificados globalmente, ao passo que, em 2023, o número de notificações no mundo foi de 8.871 (redução de aproximadamente 90%).

Apesar dessa redução e o fim da classificação de emergência de saúde, um artigo publicado por Mayara Secco, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), e outros autores da Fundação*, aponta indícios de um possível segundo surto de mpox em curso no Rio de Janeiro. O trabalho foi publicado em julho de 2024 no periódico Clinical Infectious Diseases.

Para comprovar tal hipótese, os autores realizaram um estudo de coorte com participantes de 18 anos ou mais que procuraram o INI/Fiocruz de junho de 2022 a janeiro de 2024 com suspeita de mpox. Foram comparados dados relativos ao período do primeiro surto (junho de 2022 a maio de 2023) e do segundo surto (setembro de 2023 e janeiro de 2024), assim como nos períodos intermediários entre essas datas.

Durante o período do primeiro surto, 983 pessoas procuraram o instituto com suspeita de mpox, com um total de 468 casos confirmados. No período entre os dois surtos (junho a setembro de 2023), 64 pessoas testaram para mpox, com nenhuma confirmação. Já no período apontado como segundo surto, 196 pessoas testaram para mpox, com 117 casos confirmados.

Os pesquisadores ressaltam o fato de o surto de mpox impactar desproporcionalmente minorias sexuais, pretos e pardos e pessoas vivendo com HIV. Durante o segundo surto, os mais afetados foram gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens cisgênero entre 30 e 39 anos e pretos e pardos. Ainda em relação ao perfil desse grupo, a coinfecção com HIV e o uso da profilaxia pré-exposição (PrEP) foram mais frequentes no surto recente.

Os autores do trabalho lembram a importância de não se negligenciar a mpox, não apenas no Brasil, como em todo mundo. Como resposta ao novo aumento do número de casos, o artigo defende a necessidade de um aprimoramento nas estratégias de vigilância em saúde para detectar a mpox e outras infecções sexualmente transmissíveis, assim como a urgência de campanhas de vacinação e uso de outras tecnologias de saúde para o controle da doença.

Link para o artigo:

https://academic.oup.com/cid/advance-article/doi/10.1093/cid/ciae290/7713692

* Autores do artigo:

Mayara Secco (1), Carolina Coutinho (1), Thiago Torres (1), Monica Magalhães (2), Carolyn Yanavich (1), Amanda Echeverría-Guevara (1), Matheus Bastos (1), Pedro Martins (1), Maira Mesquita (1), Paula Reges (1), Maria Roberta Meneguetti (1), Ana Paula Santana (1), Marcela Terra (1), Estevão Nunes (1), Flavia Lessa (1), Ronaldo Moreira (1), Eduardo Peixoto (1), Karolyne Paulo (3), Andryelle Sant’Ana (3), Edson Silva (3), Sandra Cardoso (1), Valdiléa Veloso (1) e Beatriz Grinsztejn (1).

(1)Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil

(2)Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil

(3) Instituto Oswaldo Cruz, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil