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ABRASCÃO 2025: Uso de substâncias e adesão à PrEP oral entre HSH, travestis e mulheres transgênero na América Latina – resultados do estudo ImPrEP

A América Latina registra um aumento no número de novas infecções pelo HIV entre as populações-chave, inclusive no Brasil, apesar de o país disponibilizar a profilaxia pré-exposição (PrEP), na modalidade oral diária, no Sistema Único de Saúde. O uso de álcool e outras substâncias são prevalentes entre os jovens, podendo afetar a adesão ao medicamento em toda a região.

Estudo conduzido por Carolina Coutinho, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz, no Rio de Janeiro, e o Grupo de Estudos ImPrEP*, teve como objetivo examinar a utilização de substâncias e sua associação com a adesão à PrEP oral diária entre gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens (HSH), travestis e mulheres transgênero que procuravam por serviços de prevenção do HIV na América Latina. A análise foi apresentada no 14° Congresso da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), realizado, de 28 de novembro a 3 de dezembro, em Brasília.

De 2018 a 2021, o estudo ImPrEP incluiu pessoas maiores de 18 anos e HIV negativos, do Brasil, México e Peru. Os participantes que tomavam menos de 60% dos comprimidos de PrEP tinham uma adesão considerada inadequada. O uso de álcool e demais substâncias foi autorrelatado a cada visita de acompanhamento.

No total, 9.509 pessoas foram incluídas na pesquisa, das quais 94,8% eram HSH e 5,2%  travestis/mulheres trans, com a maioria da amostra (69%) composta por pardos/mestiços e a maior frequência de utilização de substâncias no México. As substâncias mais consumidas nos três países foram o álcool (64,5%), maconha (31,9%), poppers (21%), cocaína (11%) e club drugs, como ecstasy, LSD, GHB e quetamina (12,6%). Também houve registro de consumo de crack (1,2%), solventes (0,9%) e drogas injetáveis (0,8%).

A cocaína, em maior escala, a prática de binge drinking (uso excessivo de álcool em um curto período) e os poppers, em menor escala, foram associados à adesão inadequada à PrEP. A má adesão à profilaxia foi maior no México e no Peru e entre travestis/mulheres transgênero, pessoas mais jovens (de 18 a 24 anos) e voluntários com menor grau de escolaridade.

Para os autores, a associação entre a utilização de substâncias e adesão à PrEP por HSH, travestis e mulheres trans variou conforme o tipo de substância e o contexto local, considerando a legislação e a disponibilidade. Eles destacam que os achados desse estudo reforçam a importância de integrar os serviços de saúde mental e de redução de danos às estratégias de prevenção do HIV.

*Autores:

Carolina Coutinho (1), Hamid Veja (2), Mayara Secco (1), Brenda Hoagland (1), Marcos Benedetti (1), Ronaldo Ismério (1), Valdiléa Veloso (1), Beatriz Grinsztejn (1), Thiago Torres (1) e Grupo de Estudos ImPrEP

(1) Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fiocruz), Rio de Janeiro, Brasil

(2) Instituto de Psiquiatria Ramon de La Fuente Muñiz, Cidade do México, México.