HIV, IST e Outros

Prevalência de doenças crônicas não transmissíveis e multimorbidades entre adultos vivendo no complexo de Manguinhos (RJ)

Um inquérito de base populacional realizado em Manguinhos, Rio de Janeiro, investigou a prevalência de doenças crônicas não transmissíveis e multimorbidade em a população adulta (18 anos ou mais) residente no complexo de Manguinhos no Rio de Janeiro. Conduzido por Amanda Echeverría-Guevara, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz-RJ, e outros colaboradores*, o trabalho incluiu 3.119 participantes de setembro de 2020 a fevereiro de 2021 e foi publicado na edição de outubro do periódico International Journal for Equity in Health.

Doenças crônicas não transmissíveis são definidas como condições de saúde de longa duração, de progressão lenta e quase invisível, mas com efeitos duradouros e geralmente sem cura. Dentre as principais, estão as doenças cardiovasculares (como hipertensão e infarto), o diabetes mellitus, doenças respiratórias, a obesidade e a depressão. Por sua vez, a multimorbidade se refere à coexistência de duas ou mais doenças crônicas.

Nos últimos anos, as doenças crônicas não transmissíveis têm se estabelecido como uma das principais causas de adoecimento e morte no Brasil, com tendência a aumentar significativamente nas próximas décadas. Enquanto uma condição permanente que requer tratamento e acompanhamento constantes, essas doenças impõem ao sistema de saúde um desafio estrutural e organizacional, o que requer uma atenção especial para populações vulneráveis, sem acesso a planos de saúde e à rede de atendimento privada.

O estudo conduzido por Echevarría-Guevara considerou variáveis exploratórias de gênero dicotomizado (homens, mulheres); idade em anos em categorias de faixa etária 18–24, 25–44, 45–64 e > 65 anos (conforme utilizado nas Pesquisas Nacionais de Saúde); raça/etnia autorreferida (branca, preta, parda, indígena e amarela); nível de escolaridade formal e renda; sendo 63% mulheres cisgênero e 37% homens cisgênero. Dentre as conclusões da análise, os autores apontam uma prevalência elevada de doenças como hipertensão arterial (mulheres cis 36,3%, homens cis 29,7%), obesidade (mulheres cis 25,6%, homens cis 19%) e diabetes mellitus (homens cis 13,1%, mulheres cis 12,4%). Por sua vez, a multimorbidade foi identificada em 31% das mulheres cis e em 21,5% dos homens cis, o que revela uma disparidade acentuada entre os gêneros.

O estudo notou, ainda, que participantes mais velhos e que se autodeclararam como pretos e pardos possuem mais chances de desenvolver a multimorbidade. Na divisão entre gêneros, mulheres tabagistas tenderam a ter mais chances de desenvolver essa condição e, entre os homens, estar empregado foi um fator associado à multimorbidade.

Os resultados apontaram uma alta carga de doenças crônicas não transmissíveis e multimorbidade entre a população do complexo de Manguinhos, caracterizando uma “epidemia negligenciada”, nas palavras dos autores, que afeta parte substancial da população urbana exposta a condições de vida precárias e de vulnerabilidade socioeconômica, expondo ainda disparidades raciais e de gênero.

Políticas públicas voltadas para a promoção de saúde, prevenção e atenção primária, assim como estratégias de rastreamento e acompanhamento das doenças crônicas não transmissíveis se mostram estratégias urgentes para aumentar a qualidade de vida e o tratamento adequado dessas populações.

Link para o artigo: https://equityhealthj.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12939-025-02599-9

* Autores:

Amanda Echeverría-Guevara (1), Paula Luz (1), Débora Pires (1), Emilia Jalil (1), Hugo Perazzo (1), Thiago Torres (1), Sandra Cardoso (1), Guilherme Goedert (2), Daniel Csillag (2), Eduardo Peixoto (1), Breno de Souza Filho (3, 4), Carlos Costa (4), Rodrigo Amancio (5), Cleber Santos (6, 7), Nadia Rodrigues (4, 6), Beatriz Grinsztejn (1), Valdiléa Veloso (1), Claudio Struchiner (2, 6) e Lara Coelho (1).

(1) Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil

(2) Escola de Matemática Aplicada, Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, Brasil

(3) Departamento de Saúde Coletiva, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil

(4) Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil

(5) Hospital Federal dos Servidores do Estado, Rio de Janeiro, Brasil

(6) Instituto de Medicina Social Hesio Cordeiro, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil

(7) Departamento de Epidemiologia de Doenças Microbianas, Escola de Saúde Pública Yale, New Haven, EUA.