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Artigo no The Lancet HIV debate a proposta para encerrar as atividades do Unaids até 2026

Em 18 de setembro de 2025, o relatório do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) para a iniciativa UN80 foi publicado com planos para “encerrar as atividades do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids) até o final de 2026” – quatro anos antes do previsto anteriormente. Esses planos fazem parte de um esforço mais amplo para reestruturar a ONU em meio a uma grave crise de financiamento que foi exacerbada por cortes maciços na ajuda externa dos Estados Unidos nos últimos seis meses.

O financiamento global para HIV/aids tem sido frequentemente descrito como insuficiente – com as lacunas de financiamento aumentando desde 2012 –, mas a suspensão repentina de todos os programas de assistência externa pelo governo dos Estados Unidos, em janeiro de 2025, pode ser o ponto de ruptura para um esforço global já sobrecarregado. Em 2023, os EUA representavam 73% de todo o financiamento internacional para o HIV/aids, portanto, os cortes de janeiro tiveram consequências imediatas e devastadoras.

Winnie Byanyima, diretora-executiva do Unaids, disse no início deste ano: “Vimos serviços desaparecerem da noite para o dia. Profissionais de saúde foram mandados para casa. E pessoas, especialmente crianças e populações-chave, estão sendo excluídas do tratamento”. O Unaids alerta que, se os programas de HIV anteriormente apoiados pelos Estados Unidos foram permanentemente descontinuados, isso poderá levar a 4,2 milhões de mortes adicionais relacionadas à aids e 6,6 milhões de novas infecções nos próximos quatro anos.

Embora parte do financiamento internacional para HIV/aids para 2025 tenha sido restaurada, muitos serviços essenciais permanecem gravemente interrompidos. Além disso, a solicitação orçamentária do governo Trump para o Plano de Emergência do Presidente dos Estados Unidos para o Alívio da Aids (PEPFAR) em 2026 é de US$ 2,9 bilhões – uma redução de US$ 1,9 bilhão em relação a 2025.

Para agravar essa crise de financiamento em curso, alguns dos maiores doadores do Unaids também preveem cortes na assistência externa até 2026 – o Reino Unido e a França estão cortando a ajuda internacional em 40% e a Holanda em 70%. Em maio, esses déficits de financiamento levaram o Unaids a anunciar um plano de transição que reduziria a sua força de trabalho em cerca de 54%, diminuiria a sua presença em países e agendaria uma revisão para 2027 que, em última instância, levaria ao fechamento do programa. No entanto, a recente proposta do secretário-geral da ONU para um cronograma acelerado até 2026 parece ter surpreendido muitos na área e, para prosseguir, precisará agora ser aprovada pelo conselho do Unaids.

A resposta a essa proposta por parte da comunidade global tem sido de profunda preocupação. Beatriz Grinsztejn, presidente da International AIDS Society, afirmou que embora o encerramento tenha sido justificado como um ato de pragmatismo para redução de custos, “esse raciocínio desmorona sob uma análise mais atenta. A crise financeira é real, mas interromper o único mecanismo multilateral dedicado à coordenação de resposta ao HIV dificilmente a resolve. Transferir responsabilidades para agências da ONU já sobrecarregadas não fará com que a lacuna de financiamento desapareça. Apenas desloca o problema”. Em relação ao momento, Grinsztejn foi além, afirmando que a “data limite antecede a conclusão da Estratégia Global de Aids 2026-31, interrompendo ciclos de planejamento críticos e minando a meta global de acabar com a aids como uma ameaça à saúde pública até 2030. Em um momento em que o progresso é frágil e desigual, a ideia de que a resposta ao HIV pode agora ser interrompida em estruturas genéricas de saúde é perigosamente ingênua”.

Grinsztejn destacou que o Unaids “unificou o que antes era um esforço fragmentado entre várias agências da ONU em um único programa coordenado. Essa estrutura conjunta deu ao mundo uma estratégia coerente, responsabilidades claras e um conjunto compartilhado de objetivos”. Sua ausência poderia minar o ímpeto político e sinalizar prematuramente que a crise do HIV acabou.

Ressaltando a inclusividade do programa, Grinsztejn observou que “o Unaids foi criado não apenas para coordenar dados e programas, mas também para amplificar vozes de pessoas que vivem com HIV e são afetadas pelo vírus, particularmente as mais marginalizadas. Desmantelar o Unaids sem um plano claro para preservar essa inclusividade corre o risco de silenciar essas comunidades e enfraquecer a responsabilidade global”. Na esperança de reverter ou atrasar a proposta do secretário-geral da ONU, Grinsztejn pede uma resposta rápida e de alto nível por parte de políticos e financiadores.

Michel Kazatchkine, diretor-executivo do Fundo Global de Combate à Aids, Tuberculose e Malária, reiterou esse apelo. No entanto, também afirmou que devemos aceitar que o Unaids eventualmente deixará de existir. O contexto de emergência em que o programa foi criado mudou, e agora estamos em um contexto de reforma: “Mas vamos fazer isso em um processo cuidadosamente planejado ao longo dos próximos quatro anos. Não vamos apressar”. À medida que a ONU entra nesse importante processo de reforma, Kazatchkine diz que será importante que os seus Estados-membros reflitam sobre como veem o modelo do Unaids. É um modelo que acarreta um alto risco de duplicações, burocracia adicional ou algo que seja indiretamente prejudicial a outras prioridades de saúde? Funcionou? E o que nele funcionou deveria ser usado novamente? “Eu acho que vale a pena refletir sobre isso”.

Fonte: site da revista The Lancet HIV, de 6 de novembro de 2025. (https://www.thelancet.com/journals/lanhiv/article/PIIS2352-3018(25)00328-5/abstract)