A terapia cognitivo-comportamental como ferramenta de apoio à adesão ao tratamento para o HIV
A terapia cognitivo-comportamental consiste em uma intervenção visando a identificar e mudar padrões de pensamentos e comportamentos negativos. Em contextos de apoio a tratamentos, busca fornecer aos pacientes habilidades e estratégias práticas, que incluem técnicas de relaxamento e manejo do estresse até identificar e enfrentar barreiras que comprometem a adesão a medicamentos.
Um artigo publicado na edição de junho de 2025 no Nat Ment Health investigou a eficácia da terapia cognitivo-comportamental na adesão à terapia antirretroviral (TARV) entre pessoas vivendo com HIV. Com autoria de David Coelho, da Escola de Saúde Pública Harvard T. H. Chan, e outros colaboradores, inclusive do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas/Fiocruz-RJ*, o estudo consistiu em uma revisão sistemática e meta-análise a partir de 20 ensaios clínicos randomizados realizados de 2002 a 2023 em diversos países, totalizando 1.739 participantes.
Os achados demonstraram que a terapia cognitivo-comportamental melhorou sensivelmente a adesão à TARV, com efeitos mais pronunciados entre pessoas com HIV com comorbidades psiquiátricas, e nos estudos conduzidos em países de baixa e média renda. A análise constatou, no entanto, não haver alterações estatisticamente significativas que relacionassem a intervenção com melhora na carga viral do vírus, na supressão viral ou na contagem de CD4 dos pacientes.
É importante notar, porém, que os resultados não significam que a terapia não funcione para esses casos. Uma hipótese levantada pelos autores é a do “efeito tardio”, comum em psicoterapias: os benefícios completos podem levar mais tempo para aparecer nos exames clínicos.
As conclusões do trabalho reforçam o papel da terapia cognitivo-comportamental como uma ferramenta valiosa para melhorar a adesão ao tratamento, especialmente em populações mais vulneráveis, ainda que seu impacto na estabilização de biomarcadores clínicos precise de mais investigações.
Link para o artigo: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/40821109/
* Autores:
David Coelho (1), Belinda Njiro (2), Mashavu Yussuf (3), Wigilya Mikomangwa (4), Willians Vieira (5), Stefania Papatheodorou (6, 7), Paul Bain (8), Bruno Sunguya (2), Mary Sando (3), Carolina Coutinho (9), Valdiléa Veloso (9), Beatriz Grinsztejn (9), Muhammad Bakari (10), Christopher Sudfeld (11), Wafaie Fawzi (11), Kenneth Mayer (11, 12, 13), Sari Reisner (6, 13, 14) e Alex Keuroghlian (13, 15, 16).
(1) Escola de Saúde Pública Harvard T. H. Chan, Boston, EUA
(2) Escola de Saúde Pública e Ciências Sociais, Universidade de Saúde e Ciências Aliadas Muhimbili, Dar es Salaam, Tanzânia
(3) Academia de Saúde Pública África, Dar es Salaam, Tanzânia
(4) Escola de Farmácia, Universidade de Saúde e Ciências Aliadas Muhimbili, Dar es Salaam, Tanzânia
(5) Departamento de Anatomia, Instituto de Ciências Biomédicas, Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil
(6) Departamento de Epidemiologia, Escola de Saúde Pública Harvard T. H. Chan, Boston, EUA
(7) Departamento de Bioestatística e Epidemiologia, Escola de Saúde Pública Rutgers, Piscataway, EUA
(8) Biblioteca Countway, Escola de Medicina de Harvard, Boston, EUA
(9) Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil
(10) Escola de Medicina, Universidade de Saúde e Ciências Aliadas Muhimbili, Dar es Salaam, Tanzânia
(11) Departamento de Saúde Global e População, Escola de Saúde Pública Harvard T. H. Chan, Boston, EUA
(12) Departamento de Medicina, Centro Médico Beth Israel Deaconess e Escola de Medicina Harvard, Boston, EUA
(13) Instituto de Saúde The Fenway, Boston, EUA
(14) Departamento de Epidemiologia, Universidade de Michigan, Ann Arbor, EUA
(15) Departamento de Psiquiatria, Hospital Geral de Massachusetts, Boston, EUA
(16) Departamento de Psiquiatria, Escola de Medicina de Harvard, Boston, EUA.



