2025 Notícias

Desigualdades de gênero no acesso ao dolutegravir na América Latina e Caribe

Um artigo publicado na edição de julho de 2025 do Journal of the International Aids Society investigou disparidades de gênero no acesso à terapia antirretroviral (TARV) com dolutegravir. Com autoria de Fernanda Fonseca, da Fundação Aids Health Care e do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas/Fiocruz, e outros colaboradores*, o estudo observacional incluiu dados de adultos (com 16 anos ou mais) vivendo com HIV que iniciaram a TARV com dolutegravir de diferentes locais da América Latina e Caribe (Brasil, Chile, Haiti e Honduras), de 2017 a 2022.

O dolutegravir representa um avanço terapêutico importante no tratamento do HIV devido à alta eficácia e tolerabilidade. No entanto, um fator que pode ter reforçado disparidades de gênero no acesso a esse medicamento foi a recomendação, de maio 2018, da Organização Mundial da Saúde (OMS), sobre o potencial risco de defeito no tubo neural em recém-nascidos expostos ao dolutegravir no momento da concepção. Embora a recomendação tenha sido revogada no ano seguinte, é importante investigar os impactos de tal medida para a equidade de acesso a esse medicamento.

No total, 22.139 pessoas foram inicialmente identificadas como elegíveis para o estudo: 4.622 que iniciaram a TARV durante o período analisado e 16.154 que já faziam uso há mais tempo (1.363 acabaram excluídas). Para os dois grupos, os autores notaram que mulheres de 16 a 49 anos tenderam a apresentar menor probabilidade de fazer uso do dolutegravir em comparação com homens da mesma idade, seja no período pré/durante o alerta da OMS (até julho de 2019), seja no período pós-alerta. Já entre os voluntários mais idosos (50 anos ou mais), não foi observada diferença entre os sexos no uso do dolutegravir entre pessoas no uso da TARV.

O artigo aponta que, mesmo que as diretrizes atualizadas recomendem a TARV com dolutegravir, disparidades de gênero permanecem, especialmente entre mulheres com idade reprodutiva. Contra esse cenário, os autores defendem a necessidade de mobilizar pesquisadores, profissionais de saúde e a sociedade civil para garantir acesso equitativo de tratamento para o HIV.

Link para o artigo: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1002/jia2.26470

* Autores:

Fernanda Fonseca (1, 2), Paridhi Ranadive (3), Bryan Shepherd (3), Flavia Ferreira (4), Maria Rodríguez (5), Daisy Machado (6), Vanessa Rouzier (7), Diana Varela (8), Fernanda Maruri (9), Peter Ribeiro (9), Beatriz Grinsztejn (2), Sandra Cardoso (2), Valdiléa Veloso (2), Jessica Castilho (9), e Emilia Jalil (2).

(1) Fundação Aids Health Care, Programa Global, São Paulo, Brasil

(2) Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil

(3) Departamento de Bioestatísticas, Centro Médico da Universidade Vanderbilt, Nashville, EUA

(4) Departamento de Pediatria, Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil

(5) Hospital Clínico San Borja Arriarán, Fundação Arriarán, Santiago, Chile

(6) Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, Brasil

(7) Grupo Haitien de Estudos de Sarcoma de Kaposi e Infecções Oportunistas, Porto Príncipe, Haiti

(8) Instituto Hondurenho de Seguridade Social e Hospital-escola Universitário, Tegucigalpa, Honduras

(9) Divisão de Doenças Infecciosas, Departamento de Medicina, Centro Médico da Universidade Vanderbilt, Nashville, EUA.