PrEP: temas gerais

Promessas e desafios para o lenacapavir nas Américas

Um artigo de opinião publicado na edição de julho no periódico The Lancet, por Valeria Cantos, da Escola de Medicina da Universidade Emory, e outros colaboradores*, inclusive do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz/RJ, discute o potencial do lenacapavir no sentido de revolucionar a prevenção do HIV nas Américas.

Especialmente na América Latina – região marcada por desigualdades estruturais, acesso desigual aos serviços de saúde, e adesão insuficiente à profilaxia pré-exposição (PrEP) na modalidade oral -, que vem apresentando uma curva ascendente de novas infecções por HIV, enquanto países como os Estados Unidos, além de disporem de maior acesso a novos métodos de PrEP, registram queda na incidência da infecção nos últimos anos.

O lenacapavir consiste em um método de PrEP injetável de ação prolongada administrado a cada seis meses. Segundo destacam os autores, o fármaco demonstrou eficácia próxima de 100% contra o HIV em ensaios clínicos, superando a PrEP oral. Apesar desse resultado promissor, os desafios estruturais de países com recursos limitados dificultam seu acesso.

O artigo também aborda lições aprendidas com o cabotegravir, primeira PrEP injetável de ação prolongada administrada a cada dois meses. Mesmo tendo sido disponibilizado comercialmente em 2021 nos Estados Unidos, o acesso ao medicamento se manteve restrito fora de ensaios clínicos, além de ter sido aprovado em apenas outros três países das Américas: Canadá, Brasil e México. Segundo o texto, fatores como processos complicados de licenciamento, falta de programas de PrEP financiados pelo Estado e falta de profissionais capacitados representaram barreiras à ampliação de acesso em larga escala.

Para fazer frente a esse cenário, o artigo defende a necessidade de um compromisso conjunto entre a empresa farmacêutica fabricante do lenacapavir, fabricantes genéricos, governos, agências reguladoras e doadores. Os autores criticam, ainda, a exclusão atual da maior parte da América Latina dessas negociações, reforçando a necessidade de políticas equitativas e esforço colaborativo entre os países.

Sem medidas concretas para garantir o acesso amplo, o lenacapavir corre o risco de repetir a trajetória do cabotegravir, desperdiçando o potencial de reduzir drasticamente a incidência do HIV na região.

Link para o artigo: https://www.thelancet.com/journals/lanam/article/PIIS2667-193X(25)00156-5/fulltext

* Autores do artigo:                                   

Valeria Cantos (1,2), Brenda Ramírez (3), Colleen Kelley (1,2) Carlos del Rio (1,2) e Beatriz Grinsztejn (4).                                 

1) Divisão de Doenças Infecciosas, Departamento de Medicina, Escola de Medicina da Universidade Emory, Atlanta, EUA
2) Grady Health System, Atlanta, EUA
3) Departamento de Infectologia, Instituto Nacional de Ciências Médicas e Nutrição Salvador Zubirán, Cidade do México, México

4) Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Laboratório de Pesquisa Clínica em HIV/Aids, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil.