Diagnóstico e vacinação contra a mpox entre HSH e mulheres transgênero no Brasil: resultados de uma grande pesquisa on-line
A mpox emergiu como uma preocupação global de saúde pública em 2022, afetando desproporcionalmente as populações de homens gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens (HSH) e de mulheres transgênero.
Estudo conduzido por Thiago Torres, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz, no Rio de Janeiro, Brasil, e outros pesquisadores*, investigou a epidemiologia e as características clínicas daqueles que relataram diagnósticos positivos e vacinação contra mpox, particularmente em cenários de recursos limitados. A análise foi apresentada, em forma de pôster, na 13ª Conferência da Internacional AIDS Society (IAS 2025), realizada, de 13 a 17 de julho, em Kigali, Ruanda.
Promoveu-se uma pesquisa transversal on-line, de agosto a dezembro de 2024, com HSH e mulheres trans, maiores de 18 anos, recrutados por meio de aplicativos de namoro e em redes sociais. Os participantes forneceram dados sociodemográficos e informações sobre comportamento sexual, histórico de diagnóstico de mpox e estado vacinal contra a doença.
Dos 7.043 voluntários incluídos, 99% eram HSH, 18% tinham de 18 a 30 anos e 24% possuíam o ensino médio ou menos escolaridade. No total, 2,2% relataram um diagnóstico prévio de mpox e 5,1% disseram ter recebido a vacina contra a doença (desses, 46,1% receberam uma dose, 47,9% receberam duas doses e 6% receberam mais de duas doses).
Entre os diagnosticados com mpox, 7,9% necessitaram de hospitalização, 2,4% não foram acompanhados por nenhum serviço de saúde, 7,9% relataram ter praticado sexo na época em que estavam com a doença e 90,8% aderiram ao isolamento.
Em comparação com as pessoas que não tiveram mpox, mais participantes diagnosticados com a doença declararam ter o ensino superior (84% contra 76%), se autoidentificaram como gays (88% contra 81%), residiam em capitais (88% contra 77%), viviam com HIV (51% contra 26%), tomavam a profilaxia pré-exposição – PrEP (66% contra 29%), tiveram mais de cinco parceiros sexuais nos seis meses anteriores (71% contra 39%), realizaram chemsex (uso de drogas durante a prática sexual) nos seis meses anteriores (57% contra 29%) e contraíram pelo menos uma IST nos seis meses anteriores (41% contra 14%).
Quando comparados com aqueles que não se vacinaram contra a mpox, mais voluntários vacinados tinham idade mais avançada (maiores de 30 anos: 86% contra 82%), se autoidentificaram como brancos (63% contra 56%), relataram viver com HIV (45% contra 25%), usavam a PrEP (50% contra 29%), tiveram mais de cinco parceiros sexuais nos seis meses anteriores (51% contra 39%), praticaram chemsex nos seis meses anteriores (41% contra 30%) e apresentaram diagnóstico de alguma IST nos seis meses anteriores (20% contra 15%).
Para os autores, as taxas de vacinação contra a mpox permanecem baixas entre HSH e mulheres transgênero no Brasil. Eles afirmam que estratégias personalizadas são necessárias para melhorar a cobertura vacinal e o suporte clínico para aqueles que são afetados pela doença e estão em situação de maior vulnerabilidade.
*Autores:
Thiago Torres, Mayara Secco, Paula Luz, Carolina Coutinho, Brenda Hoagland, Emília Jalil, Cristina Pimenta, Marcos Benedetti, Sandra Cardoso, Valdiléa Veloso e Beatriz Grinsztejn, todos do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil.