Diagnóstico de IST e o interesse no uso de DoxyPEP entre HSH e mulheres transgênero no Brasil
As infecções sexualmente transmissíveis (IST) continuam sendo um desafio para a saúde pública, afetando desproporcionalmente gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens (HSH) e mulheres transgênero na América Latina. Apesar de sua eficácia na prevenção de IST bacterianas nessas populações, a adoção e a implementação da profilaxia pós-exposição às infecções sexualmente transmissíveis, baseada na doxiciclina (DoxyPEP), permanecem limitadas no Sul Global.
Estudo conduzido por Mayara Secco, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz, no Rio de Janeiro, Brasil, e demais pesquisadores*, buscou explorar fatores associados a diagnósticos recentes de IST e a disposição para o uso da DoxyPEP entre HSH e mulheres trans no Brasil. A análise foi apresentada, em forma de pôster, na 13ª Conferência da Internacional AIDS Society (IAS 2025), ocorrida, de 13 a 17 de julho, em Kigali, Ruanda.
Os investigadores realizaram um estudo transversal on-line com esses dois públicos-alvo, maiores de 18 anos e recrutados, de agosto a dezembro de 2024, por meio de aplicativos de namoro e redes sociais. Os participantes foram agrupados de acordo com o diagnóstico (positivo ou negativo) de IST nos seis meses anteriores.
Entre os 9.356 voluntários, 82,7% tinham mais de 30 anos, 99,2% eram homens cisgênero, 56% brancos, 74,9% com ensino superior e 77,4% residentes em capitais. A prevalência autorrelatada de HIV foi de 24,8%, e 26,5% informaram o uso atual ou anterior da profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV.
No geral, 15,4% relataram pelo menos um diagnóstico positivo de IST nos seis meses anteriores. Em comparação com os que não tiveram IST, aqueles com diagnóstico positivo tinham mais chances de serem negros (49,8% contra 42,9%), terem cinco ou mais parceiros sexuais nos seis meses anteriores (65,8% contra 34,4%), usarem drogas durante a prática sexual – chemsex (40,9% contra 23,4%), possuírem maior conhecimento sobre o HIV e apresentarem menos LGBTQIAPN+fobia.
De acordo com os autores, uma parcela substancial de mulheres trans e HSH brasileiros estaria disposta a usar e poderia se beneficiar da DoxyPEP, apesar da ausência de diretrizes nacionais oficiais. Eles afirmam que o interesse estaria associado à autopercepção de fatores de risco e ao envolvimento prévio com saúde, enfatizando a necessidade de estudos de implementação para avaliar os desafios e a viabilidade do medicamento no Sul Global.
*Autores:
Mayara Secco, Thiago Torres, Paula Luz, Carolina Coutinho, Brenda Hoagland, Emilia Jalil, Cristina Pimenta, Marcos Benedetti, Sandra Cardoso, Valdiléa Veloso e Beatriz Grinsztejn, todos do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil.