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Compreendendo as preferências e a transição entre PrEP oral e injetável: insights do Estudo ImPrEP CAB Brasil

A profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV, na modalidade injetável de longa duração baseada no cabotegravir (CAB-LA), pode aumentar a cobertura da profilaxia e a proteção ao HIV, além de demonstrar potencial para superar os problemas de adesão associados à PrEP oral diária.

Cristina Pimenta, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz, no Rio de Janeiro, Brasil, e outros pesquisadores*, realizaram estudo para descrever as preferências relacionadas à PrEP e as transições entre as modalidades oral e injetável no Brasil. A análise foi apresentada, em forma de pôster, na 13ª Conferência da Internacional AIDS Society (IAS 2025), ocorrida, de 13 a 17 de julho, em Kigali, Ruanda. 

O ImPrEP CAB Brasil é um estudo de implementação da PrEP injetável oferecida no mesmo dia, para jovens (de 18 a 30 anos) de minorias sexuais e de gênero, em clínicas de saúde pública localizadas em seis cidades brasileiras (São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Manaus, Florianópolis e Campinas). De outubro de 2023 a outubro de 2024, participantes, sem experiência prévia com a PrEP, foram incluídos na pesquisa e, posteriormente, acompanhados por 48 semanas.

Os voluntários podiam trocar de modalidade de PrEP apenas uma vez durante a participação no estudo. Um subconjunto de pessoas que fizeram a troca foi convidado a participar de uma análise qualitativa, com entrevistas semiestruturadas conduzidas, gravadas e transcritas. A análise de conteúdo explorou motivações e insights sobre as escolhas de PrEP e as transições entre as modalidades da profilaxia.

Dos 1.447 jovens de minorias sexuais e de gênero incluídos, 1.200 (83%) iniciaram a PrEP injetável com CAB-LA e 47 (3,2%) mudaram de esquema: 26 da PrEP injetável para a modalidade oral e 21 da oral para a injetável. Um total de 26 entrevistas foram realizadas com participantes que fizeram a mudança.

A preferência inicial pela PrEP oral foi influenciada pelo medo de agulhas e dores, levando os participantes a evitarem a modalidade injetável. O conhecimento prévio e a acessibilidade a informações sobre a PrEP oral a tornaram uma escolha mais familiar.

Por outro lado, os voluntários que mudaram da oral para a injetável relataram dificuldades de adesão devido a efeitos colaterais, como náuseas e dores de cabeça, ou o esquecimento frequente da ingestão dos comprimidos. Esses participantes consideravam que a PrEP injetável proporcionava uma proteção mais prática e consistente.

A maior parte das transições da PrEP injetável para oral ocorreu por causa de dores no local da injeção, febre, calafrios, entre outros sintomas sistêmicos. Outros motivos relatados para a troca foi a realização de viagens de longa duração, que podem fazer o usuário da profilaxia perder a data da injeção, ou a mudança de domicílio para cidade onde não há centro de estudo.

Segundo os autores, a PrEP oral diária e a PrEP injetável de longa duração são percebidas como opções eficazes entre jovens de minorias sexuais e de gênero no Brasil. Eles ressaltam que os achados do estudo enfatizam a complexidade da dinâmica da escolha da profilaxia e destacam a necessidade de suporte de saúde centrado na pessoa  para a transição entre as modalidades. Compreender as experiências e as necessidades pessoais é crucial para otimizar a administração de PrEP e garantir resultados bem-sucedidos na proteção do HIV.

*Autores:

Cristina Pimenta (1), Claudio Mann (1), Eduardo Carvalheira (1), Carolina Coutinho (1), Cristina Jalil (1), Alessandro Farias (2), José Madruga (3), Josué Lima (4), Maria Mourão (5), Ronaldo Zonta (6), Marcos Benedetti (1), Ronaldo Ismerio (1), Brenda Hoagland (1), Valdilea Veloso (1), Thiago Torres (1), Brenda Grinsztejn (1) e Grupo de Estudos ImPrEP CAB Brasil.

(1) Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil

(2) Centro Especializado em Diagnóstico, Assistência e Pesquisa, Salvador, Brasil

(3) Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids, São Paulo, Brasil

(4) Centro de Referência em DST/Aids, Campinas, Brasil

(5) Fundação de Medicina Tropical Heitor Vieira Dourado, Manaus, Brasil

(6) Centro de Testagem e Aconselhamento – Policlínica Centro, Florianópolis, Brasil.