HIV, IST e Outros

Desenvolvimento e validação de escalas de estigma para surtos de doenças infecciosas

Um artigo publicado na edição de maio de 2025 do periódico The Lancet – Infectious Diseases apresentou duas escalas desenvolvidas para identificar e reduzir estigmas durante surtos de doenças infecciosas e apoiar sua redução. Medir o estigma durante surtos é uma medida crucial para garantir uma resposta efetiva a epidemias, já que tal fenômeno prejudica a busca por cuidados de saúde, a participação em pesquisas e a reintegração social de pessoas infectadas desde os primeiros momentos do surto.

Elaboradas por Amy Paterson, da Universidade de Oxford, e outros colaboradores, as escalas de estigma RAPID (sigla para (Re)-emerging and ePidemic Infectious Diseases) foram estruturadas a partir de três contextos de surto de doenças no mundo: o ebola, em Uganda; o mpox, no Reino Unido; e o nipah, em Bangladesh. O estudo contou com 1.008 voluntários divididos entre pessoas recuperadas, profissionais de saúde, contatos próximos e membros das comunidades afetadas.

As duas versões da escala de estigma RAPID foram a Escala de Estigma Comunitário e a Escala de Autoestigma. A primeira foi composta por 12 itens divididos em quatro dimensões: 1) estigma social inicial, como discriminação pública e fofocas; 2) estigma relacionado a profissionais ou autoridades, como julgamento por parte de trabalhadores da saúde ou políticos; 3) estigma estrutural, como a perda de direitos ou oportunidades; e 4) estigma social duradouro, como rejeição após a recuperação da doença. Já a Escala de Autoestigma mede a internalização do estigma pelos próprios infectados, abrangendo aspectos como vergonha do diagnóstico e hesitação em buscar cuidados.

Quanto aos resultados, ambas as escalas apresentaram propriedades psicométricas, incluindo validade de conteúdo, validade estrutural e confiabilidade. As altas pontuações nas duas escalas de estigma estiveram principalmente associadas à hesitação em relatar sintomas e buscar atendimento. 

Segundo os autores do artigo, a elaboração das escalas de estigma RAPID pode ajudar no controle de surtos de doenças em diferentes contextos, orientando intervenções mais rápidas de saúde pública. Dentre as limitações quanto aos resultados encontrados, foi apontada a necessidade de estudos longitudinais com as escalas, bem como a necessidade de adaptá-las para contextos de estigma interseccional, como entre a população LGBTI+ durante possíveis surtos.

Link para o resumo do artigo: https://www.thelancet.com/journals/laninf/article/PIIS1473-3099(25)00161-6/abstract