Sífilis pré-natal entre mulheres que vivem com HIV no Brasil
A sífilis pré-natal, além de favorecer a transmissão vertical do HIV para o feto durante a gravidez ou parto, está associada a outros efeitos adversos, como aborto espontâneo, parto prematuro e morte neonatal. Tais efeitos podem ser prevenidos com detecção precoce e tratamento adequado.
Um artigo publicado na edição de novembro de 2024 no periódico The Lancet investigou a prevalência, os fatores associados e os impactos da sífilis pré-natal entre gestantes brasileiras que vivem com HIV. O estudo foi conduzido por Jessica Castilho, da Universidade Vanderbilt, nos Estados Unidos, e outros colaboradores, incluindo pesquisadores do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz/RJ*.
Os dados foram coletados a partir de uma coorte retrospectiva com brasileiras que vivem com HIV e que estão em terapia antirretroviral. No total, o estudo incluiu 2.169 mulheres que engravidaram entre 2015 e 2018. Os resultados revelaram uma prevalência de 7,7% (166) de sífilis pré-natal, das quais 151 receberam tratamento para a infecção. A maior incidência ocorreu entre mulheres jovens, negras, pardas ou indígenas e usuárias de crack ou cocaína.
Das mulheres avaliadas, 1.042 possuíam informações sobre acompanhamento pré-natal e exames realizados, tendo 475 recebido cuidados inadequados e apenas 301 (29%) rastreamento pré-natal para sífilis conforme recomendado. Apesar desse resultado, a sífilis não aumentou significativamente o risco de efeitos adversos para a gravidez, possivelmente devido ao tratamento recebido para as que testaram positivo.
Os resultados do estudo reforçam a necessidade de estratégias direcionadas a populações vulneráveis, incluindo ampliação da cobertura de exame pré-natal e rastreamento universal de sífilis.
Link para o artigo: https://www.thelancet.com/journals/lanam/article/PIIS2667-193X(24)00221-7/fulltext
* Autores do artigo:
Jessica Castilho (1), Fernanda Fonseca (2, 5), Ahra Kim (4), Emilia Jalil (5), Shengxin Tu (4), Andréa Beber (3), Adele Benzaken (2), Valdiléa Veloso (5), Beatriz Grinsztejn (5), Bryan Shepherd (4) e Angélica Miranda (3).
(1)Centro Médico da Universidade Vanderbilt, Divisão de Doenças Infecciosas, Nashville, EUA
(2)Fundação Aids Health Care, Programa Global, São Paulo, Brasil
(3)Ministério da Saúde do Brasil, Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis, Brasília, Brasil
(4)Centro Médico da Universidade Vanderbilt, Departamento de Bioestatísticas, Nashville, EUA
(5)Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil.