Associação entre status socioeconômico e adesão à TARV e à PrEP no Brasil
O Brasil oferece terapia antirretroviral (TARV) e profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV, de maneira gratuita, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). A adesão à TARV e à PrEP é essencial para se alcançar os benefícios esperados da supressão viral e da prevenção da infecção pelo HIV, respectivamente. Lamentavelmente, o país tem vivenciado o agravamento das desigualdades sociais, exacerbado pela pandemia da Covid-19, levando a um aumento da insegurança alimentar, em especial entre as populações mais vulneráveis.
Estudo conduzido por Paula Luz, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz, no Rio de Janeiro, e outros pesquisadores da Fundação*, investigou se a insegurança alimentar mediou associações entre o status socioeconômico e a adesão à TARV e à PrEP. O artigo foi publicado, em 5 de março de 2025, no Journal of the International AIDS Society.
Foram considerados elegíveis para o estudo, realizado de maio a setembro de 2021, gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com outros homens, pessoas transgênero e não binárias, residentes no Brasil, que relataram o uso da TARV, caso vivessem com HIV, ou a utilização da PrEP oral diária, se fossem HIV negativas.
No total, 1.230 pessoas com HIV que usavam a TARV e 991 participantes HIV negativos que tomavam a PrEP oral diária foram incluídos na análise. A maioria dos voluntários eram homens cisgênero (98%). A média de idade da amostra foi de 37 anos entre as pessoas que viviam com o vírus e de 34 anos entre aquelas HIV negativas.
Uma quantidade maior de pessoas com HIV informou sofrer com insegurança alimentar, em comparação com os participantes HIV negativos (21,7% contra 12,9%). O autorrelato de adesão à TARV foi de 55,7%, enquanto o índice de adesão à PrEP ficou em 93,3%. Nos dois grupos, o status socioeconômico teve efeito direto na adesão: um maior status socioeconômico foi associado a uma menor insegurança alimentar e uma maior insegurança alimentar foi associada a uma menor adesão à TARV e à PrEP.
Segundo os autores, o fornecimento de suporte socioeconômico pode ajudar os pacientes que vivem com HIV e as pessoas HIV negativas, com maior vulnerabilidade à aquisição do vírus, reduzindo a insegurança alimentar e, consequentemente, melhorando a adesão à TARV e à PrEP.
Fonte: site do Journal of the International AIDS Society, de 5 de março de 2025.
(https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/jia2.26432)
*Autores:
Paula Luz (1), Thiago Torres (1), Victor Matos (2), Giovanna Costa (1), Brenda Hoagland(1), Cristina Cristina Pimenta (1), Marcos Benedetti (1), Beatriz Grinsztejn (1) e Valdiléa Veloso (1)
(1)Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil
(2)Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil.