Impacto do tratamento de ação direta na qualidade de vida de pessoas com hepatite C
Antivirais de ação direta são medicamentos que atuam diretamente no mecanismo de replicação de vírus, sendo amplamente utilizados em tratamentos como o da hepatite C. A recuperação com esses antivirais tende a ser mais rápida em relação a métodos tradicionais (geralmente entre 8 e 12 semanas), além de apresentar menos efeitos colaterais.
A hepatite C permanece sendo um desafio para a saúde pública, com um total estimado de certa de 50 milhões de casos globais no ano de 2022. Enquanto muitas pessoas com essa doença permanecem assintomáticas, outras apresentam sintomas como fadiga, dores nas articulações e náuseas. Além desses sintomas, a hepatite C está associada a sentimentos de ansiedade, depressão e isolamento social.
Para enfrentar esse cenário, um artigo publicado em fevereiro no Quality of Life Research avaliou a viabilidade e eficácia dos antivirais de ação direta na qualidade de vida relacionada à saúde de pessoas com hepatite C. O estudo, conduzido por Thiago Torres, do Instituto Nacional de Infectologia Evando Chagas, da Fiocruz, e outros pesquisadores*, foi um ensaio clínico multicêntrico internacional (ACTG A5360) realizado no Brasil, África do Sul, Tailândia, Uganda e Estados Unidos.
No total, 394 voluntários receberam medicação por 12 semanas e foram acompanhados por um período de até 72 semanas. Os pacientes dos cinco países foram submetidos a um regime terapêutico de monitoramento mínimo, numa abordagem simplificada que busca reduzir a frequência de monitoramento e o acompanhamento presencial. No ACTG A5360, os parâmetros utilizados para avaliação de resultados quanto à qualidade de vida relacionada à saúde envolveram fatores como dor, desconforto, ansiedade e depressão.
Os resultados demonstraram melhorias significativas em termos de qualidade de vida relacionada à saúde, especialmente entre pacientes com cirrose. Em geral, pacientes do Brasil e Tailândia demonstraram melhores resultados, ao contrário dos EUA, onde essas melhorias se mostraram menos pronunciadas. Os autores reforçam a importância do tratamento com antivirais de ação direta, com destaque para aqueles com hepatite C em estágio avançado. Do mesmo modo, a ênfase quanto à qualidade de vida relacionada à saúde ressalta a importância de uma abordagem médica que alie a avaliação de eficácia à saúde mental dos pacientes, integrando fornecimento de medicamentos e suporte psicológico para as pessoas com hepatite C.
Link para o artigo: https://link.springer.com/article/10.1007/s11136-025-03922-1
* Autores
Thiago Torres (1), Pooja Saha (2), Laura Smeaton (2), Chanelle Wimbish (3), Dimas Kliemann (4), Anchalee Avihingsanon (5), Estevão Nunes (1), Cissy Kityo (6), Jaclyn Bennet (7), Marije Van Schalkwyk (8), Benjamin Linas (9), Gregory Robbins (10), David Wyles (11), Susanna Naggie (12), Mark Sulkowski (13), Sandra Wagner Cardoso (1) e Sunil Solomon (13).
(1) Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil
(2) Centro de Bioestatísticas em Pesquisa de Aids, Escola Pública de Saúde Harvard T. H. Chan, Boston, EUA
(3) DLH Corporation, Bethesda, EUA
(4) Hospital Nossa Senhora da Conceição, Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Porto Alegre, Brasil
(5) Centro de Pesquisa em Aids Thai Red Cross, Centro de Excelência em Tuberculose, Faculdade de Medicina, HIV-NAT, Universidade Chulalongkorn, Bangkok, Tailândia
(6) Centro de Pesquisa Clínica Joint, Kampala, Uganda.
(7) Unidade de Pesquisa Clínica em HIV, Escola de Medicina Clínica, Faculdade de Ciências em Saúde, University de Witwatersrand, Joanesburgo, África do Sul
(8) Family Centre for Research with Ubuntu, Universidade Stellenbosch, Cidade do Cabo, África do Sul
(9) Centro Médico Boston, Boston, EUA
(10) Hospital Geral de Massachusetts, Boston, EUA
(11) Centro Médico de Saúde Denver, Denver, EUA.
(12) Escola de Medicina da Universidade Duke, Durham, EUA
(13) Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, Baltimore, EUA.