HIV, IST e Outros

Fatores associados à transmissão intra e extradomiciliar de Covid-19 a partir de estudo de coorte em Manguinhos/RJ

Durante a pandemia de Covid-19, uma das principais preocupações de autoridades e profissionais de saúde foi garantir o cumprimento das medidas de distanciamento social. No entanto, diversos fatores socioeconômicos dificultaram a adesão a essas diretrizes, como a impossibilidade de boa parte da população trabalhar remotamente e a realidade de pessoas que vivem em residências superlotadas.

Um artigo publicado na edição de agosto de 2024 no periódico The Lancet explorou as consequências dessas disparidades. Com autoria de Lara Coelho, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI-Fiocruz/RJ), e outros autores*, o estudo se concentrou em distinguir a transmissão por Covid-19 entre transmissão intradomiciliar ou extradomiciliar a partir de uma comunidade com alta vulnerabilidade econômica no Rio de Janeiro, o Complexo de Manguinhos.

A investigação utilizou um grupo de coorte com pessoas com ≥ 1 ano de idade que apresentaram suspeita ou caso confirmado de Covid-19 nos 30 dias anteriores, assim como outros membros da família que dividiam o mesmo domicílio. Os voluntários foram acompanhados por um período que variou entre 14 e 28 dias. No total, 2.024 pessoas e 593 domicílios foram incluídos.

Os resultados demonstraram que o risco de infecção extradomiciliar por Covid-19 foi de 74,5%, enquanto o da infecção intradomiciliar foi de 11,4%. O risco de infecção intradomiciliar foi maior entre participantes de 10 a 19 anos, com baixa renda familiar e vivendo em residências superlotadas, especialmente com mais de quatro pessoas dividindo o mesmo cômodo. Já a infecção extradomiliciar foi maior entre participantes de 20 a 29 anos, desempregados e usuários de transporte público, com o recebimento de programas de transferência de renda por membros da família, como o Bolsa Família, sendo um dos fatores associados à menor chance de infecção extradomiciliar.

Quanto ao impacto da vacinação sobre a dinâmica de contágio, o estudo notou que os pesquisados que relataram ter recebido duas doses da vacina contra a Covid-19 apresentaram menor risco de infecção em ambos os cenários.

Para os autores do artigo, o estudo fornece importantes dados sobre a transmissão domiciliar e comunitária pelo Covid-19 em populações com vulnerabilidade econômica, fornecendo subsídios para informar políticas de saúde e aperfeiçoar procedimentos. No contexto da Covid-19, o risco desproporcionalmente maior de infecção extradomiciliar pela população analisada destaca a necessidade de políticas públicas que favoreçam o cumprimento das medidas de distanciamento social, como programas de transferência de renda.

Link do texto: https://www.thelancet.com/journals/lanam/article/PIIS2667-193X(24)00151-0/fulltext

* Autores do texto:

Lara Coelho (1), Paula Luz (1), Débora Pires (1), Emilia Jalil (1), Hugo Perazzo (1), Thiago Torres (1), Sandra  Cardoso (1), Eduardo Peixoto (1), Sandro Nazer (1), Eduardo Massad (2), Luiz Carvalho (2, 10), Weeberb Réquia (3), Fernando Motta (4), Marilda Siqueira (4), Ana Vasconcelos (5), Guilherme Fonseca (5), Liliane Cavalcante (5), Carlos Costa (6), Rodrigo Amancio (7), Daniel  Villela (8, 9), Tiago Pereira (10), Guilherme Goedert (2), Cleber Santos (11), Nadia Rodrigues (6, 11) Breno Souza Filho (6, 12), Daniel Csillag (2), Beatriz Grinsztejn (1), Valdiléa Veloso (1) e Claudio Struchiner (2, 11).

(1) Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil.

(2) Escola de Matemática Aplicada, Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, Brasil.

(3) Escola de Políticas Públicas e Governo, Fundação Getúlio Vargas, Brasília, Brasil.

(4) Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo, Instituto Oswaldo Cruz, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil.

(5) Laboratório de Bioinformática, Laboratório Nacional de Computação Científica, Petrópolis, Brasil. 

(6) Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil.

(7) Hospital Federal dos Servidores do Estado, Rio de Janeiro, Brasil.

(8) Programa de Computação Científica, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil. 

(9) Centro de Saúde e Bem-estar, Escola de Assuntos Públicos e Internacionais, Universidade de Princeton, Princeton, EUA.

(10) Instituto de Ciências Matemáticas e Computação, Universidade de São Paulo, Brasil  .

(11) Instituto de Medicina Social Hesio Cordeiro, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil. 

(12) Departamento de Saúde Coletiva, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil.