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Fatores associados a infecções sexualmente transmissíveis entre HSH, travestis e mulheres trans participantes do ImPrEP

Mesmo com o êxito da profilaxia pré-exposição (PrEP) para prevenir a transmissão do HIV, a ocorrência de outras infecções sexualmente transmissíveis (IST) ainda permanece um desafio. Para subsidiar estratégias eficazes de combate a essas infecções, é essencial produzir dados sobre a incidência e prevalência das IST, bem como identificar o perfil da população mais afetada.

Um artigo publicado na edição de setembro do periódico The Lancet HIV explorou fatores associados à prevalência, incidência e recorrência de IST entre participantes do ImPrEP, estudo aberto e multicêntrico com a PrEP direcionado a gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens (HSH), travestis e mulheres trans em diferentes locais do Brasil, México e Peru. O artigo foi escrito por Mayara Secco, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz/RJ, e outros autores do Grupo de Estudos ImPrEP*.

As IST avaliadas foram sífilis, clamídia anorretal e gonorreia anorretal, testadas no momento de inclusão dos participantes no ImPrEP e durante as visitas de acompanhamento do estudo. Três desfechos para as IST foram considerados: IST bacterianas prevalentes, IST bacterianas incidentes e IST bacterianas recorrentes. Uma IST bacteriana recorrente foi definida como um segundo diagnóstico de IST após um diagnóstico anterior ou o diagnóstico simultâneo de pelo menos dois patógenos diferentes.

Dentre os 9.509 participantes do ImPrEP**, 8.525 possuíam dados disponíveis sobre IST no momento de inclusão e foram considerados pelo artigo: 3.640 do Brasil, 2.671 do México e 2.214 do Peru. Dos 8.525, 2.184 tinham alguma IST, especialmente clamídia (1.006), seguida de sífilis (817) e gonorreia anorretal (793).

Já durante as visitas de acompanhamento no ImPrEP, foi possível incluir dados de 7.558 participantes. A incidência de IST no período de acompanhamento foi de 31,7 casos por 100 pessoas-ano, com a maior taxa para clamídia anorretal (11,6 por 100 pessoas-ano), seguida de sífilis (10,5 casos por 100 pessoas-ano) e gonorreia anorretal (9,7 casos por 100 pessoas-ano). No total, 2.391 (31,6%) de 7.558 participantes tiveram pelo menos uma IST durante as visitas de acompanhamento, sendo que, dentre estes, 915 (12,1%) tiveram diagnósticos recorrentes, representando 2.328 (61,2%) do total de 3.804 diagnósticos de IST incidentes registrados. Esse último dado demonstrou a existência de um alto número de diagnósticos em uma pequena parcela de participantes.

As características associadas a IST prevalentes, incidentes e recorrentes incluíram ter idade mais jovem (de 18 a 30 anos), se identificar como não-brancos, ter múltiplos parceiros sexuais, praticar sexo anal como passivo sem camisinha, fazer uso de substâncias e ter diagnóstico anterior positivo para IST.

Os resultados do estudo evidenciam a necessidade de intervenções personalizadas para prevenir as IST. Dentre as medidas sugeridas pelos autores do artigo, estão o aconselhamento individual sobre comportamento sexual, a adoção de políticas públicas sobre educação sexual em escolas e estratégias de redução de danos para o uso de substâncias.

Link para o artigo: https://www.thelancet.com/journals/lanhiv/article/PIIS2352-3018(24)00211-X/fulltext

* Autores:

Mayara Secco (1), Thiago Torres (1), Carolina Coutinho (1), Ronaldo Moreira (1), Iuri Leite (2), Marcelo Cunha (2), Pedro Leite (2), Carlos Cáceres (3), Hamid Vega-Ramírez (4), Kelika Konda (3), Juan Guanira (3), José Madruga (5), Sandra Cardoso (1), Marcos Benedetti (1), Cristina Pimenta (1), Brenda Hoagland (1), Beatriz Grinsztejn (1) e Valdiléa Veloso (1).

(1) Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil.

(2) Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil.

(3) Universidade Peruana Cayetano Heredia, Centro de Investigações Interdisciplinares em Saúde, Sexualidade e Aids, Lima, Peru.

(4) Centro de Referência e Treinamento em DST/AIDS, São Paulo, Brasil.

(5) Instituto Nacional de Psiquiatria Ramón de la Fuente Muñiz, Cidade do México, México.

** A primeira etapa do estudo ImPrEP, voltado exclusivamente à oferta da PrEP oral, ocorreu de 2018 a 2021, no Brasil, México e Peru.