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A nova presidente da IAS, Beatriz Grinsztejn, afirma que a ciência e as pessoas precisam estar juntas para que a aids seja eliminada até 2030

Por John Musenze

Em uma entrevista exclusiva à New Vision Online, de Uganda, Beatriz Grinsztejn diz que, em seu mandato de dois anos, a International Aids Society (IAS) se concentrará em buscar garantir que todas as pesquisas produzidas cheguem às pessoas que mais precisam, especialmente no Sul Global.

“A pesquisa é um dos tópicos importantes para mim. Não apenas qualquer pesquisa, mas uma pesquisa que seja significativa para as comunidades, particularmente no Sul Global”, disse durante entrevista concedida em 29 de agosto de 2024.

De acordo com ela, a pesquisa não significa nada se “apenas fizermos pesquisas e não implementarmos os resultados do estudo”.

“Precisamos levar os produtos que descobrimos em nossa pesquisa para as pessoas que precisam deles.”

Para conseguir isso, Grinsztejn acredita que a colaboração é fundamental e “só será possível quando reunirmos os atores”.

“Os cientistas e a comunidade precisam estar juntos para que possamos não apenas promover pesquisas em nossos países, mas também tornar reais os resultados do nosso projeto para que possam beneficiar as comunidades”, afirma.

Ao priorizar a pesquisa e a implementação, Grinsztejn visa causar um impacto tangível na vida dos afetados pelo HIV e pela aids: “Precisamos garantir que nossa pesquisa não esteja apenas em uma prateleira, mas esteja realmente sendo usada para melhorar a vida das pessoas que vivem com HIV”.

Descoberta emocionante

Ela relembra a empolgante e inovadora pesquisa apresentada na conferência AIDS 2024, que trouxe novas esperanças na luta contra o HIV. No entanto, enfatiza que tornar essas intervenções acessíveis àqueles que mais precisam delas é crucial : “Precisamos garantir que essas intervenções cheguem às pessoas que mais precisam e as querem”, diz ela. “Não se trata apenas de ter uma pesquisa empolgante, mas de traduzir essa pesquisa em realidade para as pessoas que mais precisam.”

Grinsztejn destaca a importância do estudo Purpose One, que mostrou que o lenacapavir, uma nova classe de antirretrovirais, foi altamente eficaz na prevenção do HIV em mulheres jovens cisgêneros na África.

“Os resultados são impressionantes… Até agora, não vimos nenhuma infecção por HIV no braço do lenacapavir… e o medicamento mostrou ser muito seguro até agora na população do estudo. Isso é uma virada de jogo para a prevenção do HIV, especialmente para mulheres na África que são afetadas de forma desproporcional pela epidemia”, afirma a presidente da IAS.

Com dois excelentes produtos de ação prolongada agora disponíveis, Grinsztejn pede uma implementação rápida para diminuir novas infecções por HIV. Ela também enfatiza a importância do envolvimento da comunidade para tornar esses produtos uma realidade.

Afirma que a IAS continuará a defender o acesso a novos produtos no Sul Global, garantindo que as intervenções que salvam vidas alcancem aqueles que mais precisam delas: “Continuaremos firmemente defendendo o acesso a novos produtos porque acreditamos que todos merecem acesso aos melhores métodos possíveis de tratamento e prevenção”.

Desafios de visto para delegados

Ela também observou que a IAS está trabalhando incansavelmente para garantir que delegados de todo o mundo possam participar de suas conferências, apesar dos requisitos de visto cada vez mais desafiadores

Segundo ela, em Munique este ano, 85% dos bolsistas obtiveram visto, sendo a Nigéria, o Quênia e o Zimbábue os países mais representados. No entanto, Grinsztejn reconhece que mais precisa ser feito.

Para combater esses desafios, o IAS introduziu uma rotação global para todas as conferências, a partir de 2023. “Queremos garantir maior equidade e inclusão”, explica.

No entanto, encontrar um local adequado não é fácil, de acordo com Grinsztejn. “Precisamos encontrar um lugar que não apenas conceda vistos, mas também forneça um ambiente seguro e acolhedor para populações-chave”, observa. “Muitos de nossos participantes são dos segmentos mais marginalizados e criminalizados da sociedade, por isso é essencial que nossas conferências ocorreçam em locais que ofereçam um ambiente seguro e protegido.”

O Brasil tem sido líder na resposta ao HIV por décadas, e Grinsztejn acredita que a África Subsaariana pode aprender lições valiosas com essa abordagem. Para ela, a política de acesso universal do Brasil para a prevenção, testes e tratamento do HIV é um fator-chave para o seu sucesso.

Observa que, embora a disponibilidade de serviços seja crucial, não é suficiente para garantir que aqueles que mais precisam possam acessá-lo. “Há muito estigma e discriminação no país… a disponibilidade de prevenção e tratamento não significa que aqueles que precisam vão conseguir”, diz. Esta é uma lição crítica para a África Subsaariana, onde o estigma e a discriminação também podem ser barreiras significativas ao acesso aos serviços de HIV.

Grinsztejn enfatiza a importância do compromisso político e dos recursos na luta contra o HIV. Ao aprender com a abordagem do Brasil, a África Subsaariana pode melhorar sua resposta ao HIV e garantir que aqueles que mais precisam possam acessar serviços que salvam vidas.

Quem é Beatriz Grinsztejn?

Beatriz Grinsztejn é uma importante médica-pesquisadora de doenças infecciosas do Brasil, que traz uma riqueza de experiência para sua nova função.

Grinsztejn cofundou o Serviço de HIV/aids da Fiocruz, o maior prestador de cuidados no Rio de Janeiro, Brasil, e atua como chefe do Laboratório de Pesquisa Clínica em IST, HIV/Aids do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fundação, há 25 anos. Sua dedicação ao combate ao HIV tem um impacto significativo em seu país de origem e além.

Como presidente da IAS, Grinsztejn lidera os esforços da organização para combater o HIV globalmente, trabalhando para um mundo onde todas as pessoas tenham acesso à prevenção, tratamento e cuidados de que precisam para prosperar.

Link para a matéria: AIDS society president to ensure research benefits people – New Vision Official

Para ouvir o podcast da matéria, acesse New Vision – New Vision Official (clicando em Around Uganda)