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Associação entre adesão à terapia antirretroviral e estigmas relacionados ao HIV entre HSH no Brasil

No Brasil, cerca de 35% das pessoas que vivem com HIV têm baixa adesão à terapia antirretroviral (TARV). Múltiplos fatores podem ser apontados como relacionados à não adesão, e compreendê-los pode ajudar no desenvolvimento de intervenções mais eficazes para promover o tratamento adequado ao vírus.

Dentre esses fatores, destaca-se o papel que os estigmas relacionados ao HIV exercem sobre as pessoas que vivem com ele. Tais estigmas podem levar à elaboração de uma autoimagem depreciativa, ansiedade e depressão, potencialmente comprometendo a regularidade do uso da TARV.

Artigo publicado na edição de agosto do periódico Plos One explorou as múltiplas dimensões dos estigmas relacionados ao HIV e seus possíveis efeitos sobre a adesão à terapia antirretroviral entre gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens (HSH) no Brasil. Com autoria de Victor Matos, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, e de Thiago Torres e Paula Luz, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, ambos da Fiocruz/RJ, o artigo incluiu 1.719 voluntários a partir de anúncios veiculados no aplicativo Hornet entre fevereiro e março de 2020.

O estigma relacionado ao HIV e a adesão à TARV foram medidos a partir de uma escala validada composta por questionário com 118 perguntas, por meio do qual foram delineados caminhos diretos e indiretos acerca dos dois temas.

Entre os participantes do estudo, constatou-se uma adesão satisfatória de 70% à TARV. Em relação às dimensões do estigma medidas pela escala validada, os autores observaram que tanto o estigma internalizado do HIV ((aquele que se refere a experiências de discriminação já sofridas) quanto as preocupações com as atitudes públicas estigmatizantes que possam vir a acontecer se associavam à autoimagem negativa. Essa, por sua vez, demonstrou comprometer a adesão à TARV. A autoimagem negativa esteve associada, ainda, ao uso de álcool e outras substâncias.

Quanto a outras dimensões de estigma analisadas, as preocupações sobre atitudes públicas foram diretamente associadas a temores sobre a divulgação do status de HIV. No entanto, não foram encontradas associações significativas entre esses fatores e a adesão à terapia antirretroviral.

Segundo os autores, os resultados ressaltam a importância de múltiplas estratégias para eliminar o estigma relacionado ao HIV tanto individual quanto socialmente. Eles sugerem intervenções psicoterapêuticas para melhorar a autoimagem das pessoas que vivem com o vírus, assim como políticas públicas de conscientização como possíveis formas de intervenção.

*Autores do artigo:

Victor Matos (1), Thiago Torres (2) e Paula Luz (2)


(1) Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil.

(2) Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil.

Link para o artigo: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0308443