Artigo publicado em julho de 2023, no periódico AIDS and Behavior, investigou em que medida as condições socioeconômicas, a insegurança alimentar e o abuso de álcool impactam na adesão à terapia antirretroviral. A análise, conduzida por Hugo Perazzo e outros pesquisadores do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz-RJ*, foi realizada de novembro de 2019 a março de 2020, incluindo 434 participantes a partir de entrevistas realizadas enquanto esperavam para as consultas de acompanhamento da TARV no instituto.

Dentre os voluntários, cerca de 20% relataram que a comida acabava antes de haver dinheiro para comprar mais comida ou a necessidade de reduzir o tamanho das refeições devido à falta de dinheiro; 12% reportaram passar fome. Sessenta e quatro por cento informaram fazer uso de bebidas alcoólicas, com 39,6% ingerido seis ou mais bebidas em uma única ocasião no último ano. Por sua vez, 24% perderam doses da TARV.

O uso do álcool não se mostrou diretamente relacionado à condição socioeconômica, mas foi observado um impacto direto na adesão à terapia antirretroviral. Vinte e dois participantes forneceram informações sobre a adesão diária e o uso de bebidas alcoólicas ao longo de 42 dias. Os autores do artigo notaram uma importante diminuição na adesão nos dias em que o álcool era ingerido de modo abusivo. Tal interferência foi interpretada por dois vieses: afetando a memória, o que levava ao esquecimento da ingestão das pílulas, ou pelo receio da interação do álcool com os medicamentos da TARV.

Os resultados mostraram que status socioeconômicos mais baixos aumentaram de modo significativo as chances de uma adesão deficiente, em especial se mediados por situações de insegurança alimentar. Demonstraram, também, que o uso abusivo do álcool impacta diretamente na adesão. Atentar para tais fatores é essencial para identificar usuários da TARV que necessitam de intervenções e suporte adicionais para manterem uma adesão adequada.

Link para o artigo: https://link.springer.com/article/10.1007/s10461-023-04141-w

* Autores do artigo:

Hugo Perazzo, Juliana Gonçalves, Sandra Cardoso, Beatriz Grinsztejn, Valdiléa Veloso e Paula Luz, todos do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil.