Qualidade de vida e fadiga após alta hospitalar por Covid-19 de longa duração
Os efeitos da Covid-19 de longa duração em pessoas que tiveram casos graves da doença podem incluir uma variedade de problemas de saúde, impactando diretamente na qualidade de vida do paciente. Análise liderada por Kim Geraldo, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz, e outros colaboradores*, avaliou as mudanças na qualidade de vida e na fadiga após a alta hospitalar em participantes do estudo RECOVER-SUS Brasil. Os resultados da pesquisa foram apresentados, em forma de pôster, na 23ª Conferência da International AIDS Society sobre Ciência do HIV, realizada de 23 a 26 de julho em Brisbane, na Austrália.
Os voluntários do RECOVER-SUS Brasil foram contatados por telefone 30 e 180 dias após receberem alta do hospital. Para avaliar a qualidade de vida foram utilizados escores que iam de 0 a 100 pontos (0 para pior e 100 para melhor), enquanto na avaliação da fadiga os pesquisadores usaram escores de 4 a 20 pontos (pontuações aumentadas indicavam maior fadiga).
Dos 220 indivíduos incluídos na análise, 83 (37,7%) tinham mais de 60 anos na admissão hospitalar, 125 (56,8%) eram homens cisgênero, 98 (44,6%) negros ou pardos, 84 (39,4%) tinham o ensino fundamental incompleto, 97 (43,7%) possuíam baixa renda e 167 (75,9%) apresentavam pelo menos uma comorbidade em relação à Covid-19. A prevalência de HIV na amostra foi de 5%.
Com relação à qualidade vida, os escores de percepção geral de saúde diminuíram significativamente entre os dois contatos telefônicos, enquanto a pontuação de capacidade mental aumentou de forma moderada. Quanto à fadiga, os escores de cansaço físico aumentaram substancialmente, enquanto a pontuação de motivação diminuiu moderadamente. Nenhuma grande diferença envolvendo outros aspectos de qualidade de vida e de fadiga foi observada pelos pesquisadores.
Para os autores, pessoas que necessitaram de internação por Covid-19 tiveram pouca ou nenhuma melhora na qualidade de vida e na fadiga 180 dias após a alta hospitalar. Ainda de acordo com eles, tentar compreender a percepção geral dos pacientes sobre a própria saúde foi fundamental para buscar estratégias com objetivo de melhorar as duas questões abordadas pelo estudo. Análises futuras, com período de acompanhamento mais longo, são necessárias para se entender melhor os efeitos da Covid-19 prolongada.
*Autores do trabalho:
Kim Geraldo, Thiago Torres, Maria Pia Ribeiro, Lucilene Freitas, Sandra Cardoso, Beatriz Grinsztejn e Valdiléa Veloso, do Laboratório de IST, HIV/Aids do Instututo Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil.