HIV, IST e Outros

Estudo investiga o perfil de pacientes com suspeita e casos confirmados de mpox no Rio de Janeiro

Até outubro de 2022, 20.614 casos de monkeypox (mpox) foram reportados na América Latina, resultando em 18 mortes, contra 76.871 casos em 109 países e 36 mortes. Até essa mesma data, o Brasil ocupava a segunda posição global em número de confirmações de mpox, com 9.162 casos, e a segunda posição global no número de mortes (11).

O recente surto de mpox mobilizou a atenção dos profissionais do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI), da Fiocruz, e de outras instituições* do Rio de Janeiro. De 12 de junho a 19 de agosto de 2022, 342 pessoas com suspeita de infecção por mpox procuraram o INI, com teste de confirmação feito pelo método PCR, com material colhido em lesões cutâneas ou mucosas. Do total de casos suspeitos, 208 indivíduos testaram positivo.

Além de diagnosticar e oferecer tratamento para casos suspeitos e confirmados de mpox, o INI buscou traçar o perfil desses pacientes, visando a fornecer dados sobre a dinâmica de infecção. Esse estudo foi publicado na edição de dezembro de 2022 da revista The Lancet Regional Health – Americas.

A análise constatou que o perfil dos casos confirmados tendia a apresentar as seguintes características: indivíduos de 30 a 39 anos, gays, bissexuais e outros homens cis que fazem sexo com homens (HSH), relatando prática sexual recente. HIV, sífilis e outras infecções sexualmente transmissíveis também foram frequentes nos casos confirmados. Dois casos positivos de HIV foram diagnosticados na ocasião da visita para a testagem de mpox. Dentre os participantes HIV negativos, resultados positivos para mpox foram mais comuns entre aqueles que faziam uso da profilaxia pré-exposição (PrEP).

A mpox é uma doença cujos sintomas consistem principalmente em lesões na pele, que podem ocorrer em diversas partes do corpo. Dentre os casos confirmados no INI, as lesões na pele se concentraram principalmente nas áreas genital e anal.

O trabalho conclui que os números de resultados positivos no Estado do Rio de Janeiro demonstram que a capital vive uma epidemia local de mpox, com o contato sexual desempenhando papel central na dinâmica de infecção. Além disso, foi observada uma concentração de casos positivos entre HSH. Tais dados demonstram a necessidade de esforços de conscientização e educação comunitária que reforcem medidas de prevenção e evitem estigmas sexuais e sociais direcionados a populações mais vulneráveis.

Link para o artigo: https://www.thelancet.com/journals/lanam/article/PIIS2667-193X(22)00223-X/fulltext

* Autores do artigo

Mayara Secco Torres Silva (1), Carolina Coutinho(1), Thiago Silva Torres (1), Eduardo Peixoto (1), Ronaldo Ismério(1), Flavia Lessa (1), Estevão Portela Nunes(1), Brenda Hoagland (1), Amanda Dolores Echeverria Guevara (1), Matheus Oliveira Bastos (1), Isabel Cristina Ferreira Tavares (1), Maria Pia Diniz Ribeiro(1), Maria Roberta Meneguetti Seravalli Ramos (1), Hugo Boechat Andrade (1), Ana Paula Lovetro Santana (1), Marilia Santini-Oliveira (1), Juliana Barbosa Santos Netto (1), Paula Reges (1), Monica Avelar Magalhães (2), Leonardo Azevedo Silva Rosadas (1),  Sandro Nazer (1), Luciane Velasque (3), Sandra Wagner Cardoso (1), Edson Elias da Silva (4), Valdiléa Veloso (1), Mayumi Duarte Wakimoto (1) e Beatriz Grinsztejn (1)

(1)Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil

(2)Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil

(3)Departamento de Matemática e Estatística, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Brasil

(4)Instituto Oswaldo Cruz, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil