Disparidades sexuais relacionadas ao uso de dolutegravir na América Latina e no Caribe
Apresentado em forma de pôster na 30ª Conferência sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas (CROI), realizada de 19 a 22 de fevereiro, em Seattle, nos Estados Unidos, “Disparidades sexuais no lançamento do dolutegravir na América Latina e no Caribe” é o título de um estudo conduzido por Fernanda Fonseca, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz, e demais colaboradores*. O trabalhou avaliou as diferenças na utilização do dolutegravir em relação a pessoas cisgênero que vivem com HIV na região. O impacto do medicamento na carga viral dos participantes também foi analisado.
A pesquisa foi realizada de 2017 a 2019 no Brasil (Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte), Chile (Santiago), Haiti (Porto Príncipe) e Honduras (Tegucigalpa). Foram excluídas pessoas que iniciaram a terapia antirretroviral (TARV) com menos de 16 anos, indivíduos que começaram o tratamento antes da data de disponibilização do dolutegravir, bem como adultos transgêneros.
No total, 3.915 pessoas que viviam com HIV (41% mulheres) iniciaram a TARV após a implantação local do dolutegravir, sendo que 3.390 usaram o medicamento no tratamento. A idade média dos indivíduos no início do estudo era de 34 anos. Oitocentos e cinquenta e nove participantes eram brasileiros, 378 chilenos, 2.605 haitianos e 73 hondurenhos, sendo 15%, 10%, 57% e 19% mulheres, respectivamente.
Durante o período de acompanhamento, 2.078 voluntários atingiram a supressão viral. Em comparação com pessoas que iniciaram a TARV com outros medicamentos, o dolutegravir foi associado a uma maior probabilidade de alcançar a supressão. Mulheres mais jovens tiveram uma chance de supressão do HIV semelhante à dos homens mais jovens.
De acordo com os autores, apesar das diretrizes atualizadas da Organização Mundial da Saúde recomendarem o dolutegravir para todas as pessoas que vivem com HIV, as mulheres da América Latina e do Caribe experimentaram discrepâncias no acesso ao medicamento, impactando no tratamento de longo prazo. Eles afirmam que garantir o acesso equitativo ao dolutegravir é um desafio necessário e urgente.
*Autores do trabalho:
Fernanda Fonseca (1), Paridhi Ranadive (3), Bryan Shepherd (3), Beatriz Grinsztejn (1), Sandra Cardoso (1), Valdiléa Veloso (1), Flavia Ferreira (4), Maria Rodríguez (5), Daisy Machado (6), Vanessa Rouzier (7), Diana Varela (8), Emilia Jalil (1) e Jessica Castilho (3)
(1)Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil
(2) Fundação AIDS Healthcare, EUA
(3)Centro Médico Universitário Vanderbilt, Nashville, EUA
(4)Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil
(5)Hospital Clínico San Borja Arriarán, da Fundação Arriarán, Santiago, Chile
(6)Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo, Brasil
(7)Grupo Haitiano de Estudos de Sarcoma de Kaposi e de Infecções Oportunistas, Port-au-Prince, Haiti
(8)Instituto Hondurenho de Seguridade Social & Hospital Escola Universitário, Tegucigalpa, Honduras